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Apareci nesse
mundo, no Rio de Janeiro, no dia dois de setembro de 1945, no exato dia em que
terminou a segunda guerra mundial. Nesse dia, a bordo de um encouraçado
americano, o imperador do Japão assinou a rendição, dando fim a um dos
capítulos mais insanos da história da humanidade. Ganhei o mesmo nome de meu
pai, Paulo Alexandre Klavin, acrescido de Júnior. Meu pai, falecido em 1989,
era filho de imigrantes da Letônia, pequeno país às margens do Mar Báltico.
Minha mãe, Noemi, nasceu em Portugal, mas chegou ao Brasil ainda bebê. Tenho
mais dois irmãos e três irmãs. Sou o segundo dos seis. Minha infância aconteceu
num ambiente natural muito belo, perto da Floresta da Tijuca, aprazível ponto
turístico do Rio, sem, obviamente, o tráfego e a expansão imobiliária de hoje.
Estudei no Colégio Batista, colégio tradicional no bairro da Tijuca, onde meu
pai era professor. Meus pais eram membros ativos da Primeira Igreja Batista.
Passei minha infância e adolescência acompanhando meus pais aos programas
dominicais da igreja, com especial atenção para a elaborada e inspiradora parte
musical das cerimônias. Por insistência e controle de minha mãe, estudei piano
durante alguns anos, muitas vezes contrariado, pois perdia momentos de
brincadeiras com a garotada da vizinhança. Mas, mesmo assim, tinha bastante
jeito para a coisa. Lá pelos onze/doze anos, cursei Teoria Musical na Escola
Nacional de Música. Solfejo à primeira vista e ditado eram o terror para muitos
colegas, mas não para mim. A música sempre esteve por perto nas diversas fases
de minha vida.
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Tinha somente
quatorze anos quando resolvi prestar concurso para a Marinha. Um amigo da
família tinha acabado de se formar oficial e viajava pelo mundo. A idéia de
viajar pelo mundo me encantava. Passei dois anos (1961/62) no Colégio Naval, em
Angra dos Reis. Na seqüência dos estudos, completei os quatro anos de curso
superior na Escola Naval, na ilha de Villegagnon, na baía de Guanabara, no Rio.
Embora convencido de que essa não era minha vocação, terminei o curso e
graduei-me oficial de marinha em 1968. Logo ao voltar da longa viagem de fim de
curso, dei baixa na carreira militar, uma carreira que seria “segura e
garantida” para o resto da vida. Foi uma decisão muito difícil, pois descartava
o certo pelo incerto. Tive que alimentar uma tremenda confiança em mim de que
não seria um perdedor no futuro. Nunca me arrependi nem me lamentei do meu
período militar. Valeu para minha experiência e amadurecimento. Pelo menos duas
coisas permaneceram comigo: certa noção de disciplina e gosto por acordar bem
cedo. Depois da experiência de vida militar, formei-me em Administração de
Empresas e consegui um ótimo emprego na área de marketing. Mesmo tendo
possibilidades promissoras na carreira que se abria, não consegui ajustar-me na
vida convencional do sistema. A sensação de inadaptação que sentia era muito
forte e angustiante. Estudei Arquitetura por pouco tempo, mas não levei
adiante. Por fim, pensei ter encontrado algo que poderia ser minha ocupação
permanente. Desde criança tinha tido a vivência de presenciar meus pais
cuidando muito bem das plantas do jardim e do quintal de nossa casa. Só de
vê-los atuando, peguei o jeito pela coisa e, então, vislumbrei a possibilidade
de tornar-me um paisagista. Passei em mais um vestibular, dessa vez para o
curso de paisagismo na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Depois de dois anos de curso conclui que poderia aprender mais por
conta própria e interrompi o curso. Fiz alguns trabalhos profissionais nessa
área. Essa fase ficou marcada também por uma intensa busca por conhecimento
espiritual.
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Lia sem parar um
montão de livros. Depois de uma longa fase de agnosticismo assumido, estava
agora buscando Deus e resposta para os enigmas da vida. Fiquei logo tremendamente
atraído pelo conhecimento védico da Índia milenar. Li, entre tantas coisas, o
Bhagavad-gita e textos de Yoga. Sentia que, no fundo, tinha uma vocação
monástica. Um dia em São Paulo, na Rua Augusta, uma devota Hare Krishna
ofereceu-me um livro. Comprei sem pestanejar. Era o primeiro livro de Srila
Prabhupada publicado no Brasil, Além do Nascimento e da Morte. Li e gostei
muito. Anos atrás, tinha lido um livro do famoso Swami Vivekananda. Nesse
livro, ele afirmava que existiam dois aspectos de Deus: pessoal e impessoal.
Acontece que ele só explicou o aspecto impessoal. Por anos, fiquei com essa
curiosidade em minha mente: “O que seria esse aspecto pessoal de Deus?”. Ao ler
o livro de Prabhupada, mesmo nas primeiras páginas, vi a expressão: “Suprema
Personalidade de Deus”. Ao ler isso, meu interesse pelo livro redobrou, pois
senti que estava prestes a satisfazer minha curiosidade de anos. Dito e feito.
Prabhupada falou sobre Krishna e tocou diretamente ao meu coração. No final do
pequeno livro, havia um atrativo convite para o festival transcendental dos
domingos no templo Hare Krishna de São Paulo. Embora sempre sentisse vontade de
participar desse festival e conhecer mais de perto as pessoas que seguiam essa
filosofia, nunca fui, mais do que outro motivo, por preguiça...
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Em extensivas
leituras prévias, fiquei consciente da imperiosa necessidade de encontrar um
guru para iluminar e guiar minha vida. Toda questão era, como encontra-lo? Onde
encontra-lo? Quem seria? Talvez se fosse à Índia, pensava eu... Tomei a iniciativa de procurar, mas não me
identifiquei com nada do que vi. Cheguei então, à conclusão de que essa busca
era fantasiosa e fora do contexto em que vivia. Não queria estimular
expectativas vãs, que poderiam facilmente transformar-se em desilusões. Por não
ver saída para esse impasse, decidi, então, dar um rumo radicalmente oposto a
minha vida: deixar a busca espiritual de lado e concentrar-me na vida material.
Nessa altura, voltando a morar no Rio, ‘maya’, a energia ilusória material, oferecia-me
muitas facilidades e desfrutes. Contudo, durou muito pouco essa fase.
Certamente o Senhor Krishna tinha algum plano para mim, pois pouco depois dessa
reviravolta em minha vida, deparei-me com várias coincidências que me guiavam
sempre em direção a Krishna. A mais marcante delas foi o fato do templo Hare
Krishna ter se estabelecido na rua onde morava, a poucos metros de minha casa.
Foi o arranjo de Krishna para me ‘fisgar’. Comprei o recém-publicado
Bhagavad-gita Como Ele É e, depois de lê-lo de ponta a ponta em menos de uma
semana, realizei que o Senhor Krishna estabelecera-Se definitivamente em minha
consciência. Com a leitura dos livros de Srila Prabhupada, fiquei plenamente
convencido de ter afinal encontrado o autêntico mestre espiritual. Nesse momento
tinha encontrado aquilo que há muito procurava e chegara o momento da decisão
mais importante de minha vida: escolher entre vida material ou vida espiritual.
Vivi a indecisão desse impasse por uns poucos dias, felizmente. Desde os
primeiros contatos com os devotos, fiquei surpreso de ver a transformação que
estava ocorrendo em minha vida. Pela misericórdia de Krishna minha decisão pelo
caminho espiritual ocorreu de forma rápida e lúcida, sem muitas
hesitações. A linha de raciocínio que
tive foi a seguinte: Sempre tivera uma grande atração pela vida monástica e
assuntos espirituais e naquele momento estava tendo a oportunidade que, não
muito tempo atrás, estivera intensamente desejando—encontrar um mestre
espiritual. Por obra do acaso, tal oportunidade surgiu justamente na hora em
que tinha decidido deixar de lado a busca espiritual para assumir a opção
material. Como, então, sair desse conflito? A solução veio através de uma
conclusão dialética. Pensei assim: “Sempre tivera muita atração pela vida espiritual
e agora esta oportunidade estava apresentando-se ante mim. Ao desperdiçar tal
oportunidade, abrir-se-ia grande chance de experimentar frustração no futuro,
pois ao ter a oportunidade na mão, não aproveitei. Acontece que, frustração era
e é o que mais quero evitar em minha vida.” Esse raciocínio resolveu de uma vez
por todas o meu dilema. Decidi, então, adotar, de corpo e alma, o caminho
espiritual. Esta foi, com toda a segurança, a decisão mais acertada que fiz em
minha vida. O que, naquele momento, dava-me tal certeza? Tal certeza veio do
fato de ter testado em mim a potência espiritual de Srila Prabhupada.
Simplesmente por receber suas instruções através da leitura de seus livros,
experimentei uma radical mudança do paradigma de minha vida. Muitos maus
hábitos que cultivava em ignorância foram erradicados completa e imediatamente.
Nova motivação de vida apareceu em cena. Muitas coisas que antes me atraíram,
perderam totalmente o encanto, enquanto que coisas novas, que nem imaginava,
passaram a ser importantíssimas em minha vida. Apesar dessa transformação
radical, tudo ocorreu naturalmente e com grande felicidade. Espero,
sinceramente, que essa minha experiência pessoal seja útil para ajudar outras
pessoas que passam por situações similares em suas vidas.
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Juntei-me ao
movimento Hare Krishna em 1976, aos trinta anos de idade, recebendo as duas
iniciações do fundador-acharya Srila Prabhupada. De lá para cá, tenho estado
integralmente ativo na missão de Srila Prabhupada. Passei um pequeno período
atuando na editora, BBT. Depois disso, ocupei-me na distribuição pública da
literatura, principalmente a primeira edição do “Bhagavad-gita Como Ele É”.
Empenhei-me bastante nessa atividade, tanto que em 1977, encontrava-me entre os
dez melhores distribuidores de livros de Prabhupada no mundo. Em fevereiro de
1978, logo após a partida de Srila Prabhupada desse mundo, tive a minha
primeira oportunidade de visitar diversos lugares sagrados de peregrinação na
Índia. A partir daí, engajei-me em atividades administrativas do movimento. Fui
responsável pelo projeto no Rio de Janeiro, depois pela comunidade rural Nova
Gokula em Pindamonhangaba (SP), a seguir pelo templo de São Paulo e, também,
fui pioneiro na pregação em Brasília. Recebi a iniciação de sannyasi, o mais alto
grau da carreira monástica, em 1985, em Mayapur, na Índia. Em 1989, ausentei-me
do Brasil. Passei meio ano em Portugal e alguns meses em pregação na China.
Estive por algum tempo pregando em Filipinas. Visitei, também, vários outros
países da Ásia e, então, radiquei-me na Índia. Percorri os quatro cantos desse
país, mas, ao final, estabeleci minha base em Vrindávana, a terra sagrada de
Krishna. Em Vrindávana, tive uma experiência muito enriquecedora quando
permaneci quatro meses como responsável dos aposentos históricos que Srila
Prabhupada ocupou no templo de Radha-Damodara, logo antes dele ter vindo ao
Ocidente divulgar os conhecimentos da consciência de Krishna. Em seguida,
fiquei sediado por alguns anos no Gurukula de Vrindávana, a escola de formação
acadêmica e espiritual. Ali participei das pesquisas e elaboração da tradução
de uma gramática de sânscrito de quinhentos anos— Harinamamrita-Vyakarana, de
Srila Jiva Goswami. Nesse período, aprofundei meus estudos sobre Vedanta
Vaishnava e participei do corpo docente do VIHE— Vrindavana Institute for
Higher Education, lecionando o tema “As Quatro Sampradayas Vaishnavas”. Nessa
fase da Índia, comecei a assumir a responsabilidade de aceitar discípulos, a
fim de dar continuidade à sucessão discipular da missão de Srila Prabhupada. Na
época do centenário do aparecimento de Srila Prabhupada nesse mundo, em 1996,
senti um intenso desejo de voltar ao Brasil e desenvolver seriamente um projeto
na missão de meu mestre espiritual. O projeto que mais se encaixou aos meus
anseios foi a comunidade Goura Vrindávana de Paraty (RJ), da qual sou
coordenador e líder espiritual.
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Esse projeto, ao
qual tenho me dedicado esses últimos anos, tem me trazido muitas realizações.
Nossa proposta, em Goura Vrindávana, é fazer dessa maravilhosa terra que
Krishna colocou em nossas mãos, um santuário ecológico e um santuário
espiritual. Queremos, também, que esse projeto seja um modelo de comunidade
sustentável que possa ser multiplicado por todo o mundo. Com o propósito de
divulgar essa idéia, tenho viajado por muitos lugares, dentro e fora do país.
Tenho, também, me empenhado em orientar pessoas no caminho espiritual, por meio
de palestras, seminários e cursos.