Sul da Índia - Tirumala

Purushatraya Swami

Vou aqui tentar explicar alguma coisa sobre este lugar, mas tenho certeza que não será possível expressar-me completamente, pois tudo aqui foge a qualquer referência que normalmente temos sobre o que se passa nos templos. O que você pensa de um templo cujo número mínimo de pessoas que diariamente vai ao darshana das deidades é na ordem de cinqüenta mil pessoas e o darshana das deidades é praticamente um de cada vez? Pode-se entender que não é fácil chegar em frente das deidades. Nos panfletos do templo é dito que a pessoa tem que se estar disposta a esperar pelo menos dez horas na fila. Às vezes não se consegue no mesmo dia.
Esse é o templo de Balaji ou, então, Sri Venkateshvara, que é uma deidade auto-manifesta do Senhor Vishnu, com cerca de dois metros de altura. O templo é cuidado pelos Vaishnavas da Sri Sampradaya de Ramanujacharya. Fica a 20 quilometros de Tirupati, nas montanhas de Tirumala. Sri Caitanya Mahaprabhu veio visitar esta deidade. O humor é de Vaikuntha. Muita opulência.

(foto#01) Visão da frente do templo.
O templo de Balaji é o templo mais visitado da Índia. Pode-se dizer que é o templo mais rico do mundo. Recebe muitas doações. O que você acha de um templo em que você tem que entrar numa fila para colocar sua doação local apropriado para isso? Isso eu vi com meus olhos. A questão que fica é: De onde vem essa shakti, essa potencia? Vem certamente da deidade, mas também ela existe devido à seriedade e pureza da adoração que é feita. Ramanujacharya estabeleceu o padrão de adoração no século 13 e isso vem sendo feito estritamente pela Sri sampradaya. Ligado ao templo existe uma poderosíssima organização, chamada TTD—Tirupati Tirumala Devasthanam, que administra o lakshmi coletado pelo templo. Essa organização recuperou muitos templos do sul da Índia e fazem serviços assistenciais impressionantes.
(foto#02) Milhares e milhares de peregrinos.


(foto#03) Muitos raspam a cabeça, mesmo mulheres.
Para conseguir um darshana especial é toda uma dificuldade. O presidente do templo e um membro da congregação que é muito influente nesse templo conseguiram para mim. A autorização tem que passar pela mesa do prefeito da região, pois são tantos os pedidos de pessoas importantes como ministros, governadores, membros do parlamento, grandes empresários, VIPs, etc. que tem um tremendo pente fino. Muitas vezes a permissao é terminantemente negada. Pela misericórdia de Balaji, consegui essa permissão. Antes das cinco da manhã, já tinham umas mil pessoas em fila para o darshana especial. Só tinha os VIPs e pessoas que pagaram um bom dinheiro para isso. O darshana do “povão” começa as oito ou nove. Com essa permissão, uns dez portões de ferro se abriram e pude chegar até a entrada do recinto das deidades sem ficar algumas horas na fila. Quando se chega nesse ponto, existe um corredor de uns dez metros que dá para uma pessoa indo e outra vindo. No fundo está a deidade. Só que está a uns dez metros mais a frente. O darshana é portanto de longe. Ao entrar nesse corredor, vários funcionários do templo ficam empurrando as pessoas por não pode parar em frente da deidade. A fila não pode parar. A pessoa tem uns vinte segundos em frente da deidade, mesmo assim sendo empurrada sem parar. Aí tem que voltar pelo mesmo corredor que entrou, andando de costas para poder aproveitar mais umas olhadelas para Balaji. Devido a que estava com esse membro da congregação que conhecia o pessoal do templo, pude ter um darshana de uns três minutos. Três minutos que pareceram uma eternidade. Uma misericórdia toda especial.


(foto#04) As cúpulas do templo.

(foto#05) Famosa e impressionante cúpula de ouro acima da deidade.
Essa deidade de dois metros de altura é toda coberta com jóias verdadeiras e ouro. Balaji tem o poder de tirar o dinheiro de todo mundo. Também é pródigo em conceder bênçãos. É uma deidade super misericordiosa. Por isso é procurado por pessoas poderosas e ricas. Mas tudo tem seu preço. É procurado também pelo povo em geral. Uma tradição é raspar a cabeça antes de ir em frente da deidade. Tem um grande prédio inteiro só para isso. Muitas mulheres raspam também. As indianas têm um cabelo muito fino e muito comprido e são muito vaidosas dele. Raspar a cabeça é um sinal de renúncia. Em geral, todos vão para pedir bênçãos materiais. Os devotos pedem mais serviço devocional a Krishna.



(foto#06) Sri Venkateshvara ou, simplesmente, Balaji.


(foto#07) Essa é a uttsava-murti de Balaji, ou a deidade que sai do altar para participar das celebrações e rituais fora.
Em volta do templo tem uma verdadeira cidade, com muitas casas de hóspedes e chalés. Têm desde acomodações simples grátis até hotéis cinco estrelas. Tudo é muito organizado e limpo. Srila Prabhupada disse que os devotos devem aprender como administrar e organizar com esse pessoal. O templo distribui uma refeição completa grátis para tantos quanto aparecerem. Um enorme edifício é destinado a isso. E uma enorme cozinha toda mecanizada, com panelas de centenas de litros pode rapidamente cozinhar para cem mil pessoas ou mais.


(foto#08) Alguns brahmanas do templo.
Para esperar para o darshana, a pessoa entra num grande recinto que parece um estádio de futebol. É todo dividido em setores. Assim que um setor enche, é trancado a chave. As pessoas ficam horas presas lá. Só que tem muitas facilidades: banheiros, lanchonete, banca de revista, circuitos de televisão, etc. Cada setor é liberado de cada vez. Quando o setor é liberado aí então as pessoas entram numa fila que pode demorar umas três horas até ter esses segundinhos em frente da deidade. Vale a pena? Vale. Milhões de pessoas estão convencidas que vale. Afinal de contas não há diferença entre a deidade e o próprio Senhor Supremo. Vale à pena a austeridade. A expectativa de ver a deidade faz com que a mente fique concentrada no Senhor. O ambiente fica então carregado de energia espiritual. Ninguém se queixa pela demora.

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