GOVINDA KUNDA E MADHAVENDRA PURI
Depois que Krishna levantou a colina de Govardhana e salvou os Vrajavasis do aguaceiro enviado por Indra, este, arrependido, aproximou-se do menino Krishna para implorar por perdão. Para agradar ao Senhor, Indra trouxe a vaca Surabhi-Devi que deu um banho de leite (abhisheka) em Krishna. Krishna então recebeu o nome de Govinda, pois é o protetor e benquerente das vacas (go), gopis e gopas. A história conta que o bisneto de Krishna, Vajranabha, estabeleceu esse kunda (lago) para registrar essa lila para a posteridade.
(foto 01) Govinda kunda, ao sopé da colina de Govardhana.
(foto 02) Cena nos arredores do Govinda Kunda.
Certa vez, o grande devoto Madhavendra Puri, parama-guru (mestre do mestre) de Sri Caitanya Mahaprabhu, chegou a Govinda Kunda e ali permaneceu meditando nos passatempos de Krishna. Ele estava tão absorto em sua meditação que não se dava conta das exigências corpóreas. Num certo momento, um menino aproximou-se dele e disse: “Minha mãe notou que tu estás jejuando a dias e pediu-me que trouxesse um pouco de leite. Por favor, aceite. Aqui nessa vila ninguém jejua. Depois virei recolher minha lota (pote).” Num piscar de olhos o menino sumiu. Ao tomar o leite, Madhavendra Puri não podia acreditar quão delicioso era. Era puro néctar. Ficou, então, meditando: “Que menino tão gracioso. Quando será que ele irá voltar?” No meio da noite, o menino apareceu a ele em sonho e disse: “Eu sou Gopala e estou perdido por muitos anos num matagal perto daqui. Chame o pessoal da vila para que o ajude a encontrar-Me. Faça um templo bem bonito para Mim”. Esse passatempo está detalhadamente descrito no Sri Caitanya-caritamrta Madhya-lila capitulo 4. Em resumo: A deidade foi descoberta, fizeram um maha-abhisheka para a cerimônia de instalação e construíram um templo no alto da colina.
(foto 03) Madhavendra Puri sendo abordado pelo menino vaqueiro que lhe trouxe um pote com leite.
(foto 04) Este é o local em que a deidade Gopala foi encontrada.
(foto 05) O local do aparecimento de Gopala é venerado até os dias de hoje.
(foto 06) Bem perto do Govinda Kunda existe um outro lago, Sankarshana Kunda, que é circundado pela vila chamada Anyora. Nesse local, Nanda Maharaja, a pedido de seu filhinho Krishna, executou o sacrifício à colina de Govardhana, ao invés de dirigi-lo a Indra, como até então tinha sido a tradição. A vila chama-se assim porque quando a colina de Govardhana manifestou uma forma gigantesca de Krishna e comeu todas as oferendas, Krishna só dizia: “Anyora, anyora (Traga-me mais! Traga-me mais!)” E assim mais e mais oferendas foram feitas para satisfazer Krishna. Ao fundo, vê-se a colina de Govardhana e em cima dessa, um templo branco. Esse é o templo em que a deidade Gopala foi instalada. Sri Caitanya Mahaprabhu, quando visitou Govinda Kunda, negou-se subir até a esse templo para não pisar na colina sagrada, pois Govardhana é o próprio Krishna. Por arranjo da Providência, as deidades foram obrigadas a sair do templo e assim o Senhor Gouranga pôde ter Seu darshana. (Ver Sri Caitanya-caritamrta Madhya-lila 18, a partir do texto 23).
(foto 07) Essa é a deidade de Gopala, que passou-se a chamar Sri Nathaji. Devido às ameaças que os muçulmanos estavam a fazer aos Vaishnavas, a deidade Gopala foi confiada a um grande devoto chamado Vithalanatha, filho do grande acharya Vaishnava Vallabhacharya. Sri Nathaji foi instalado na vila de Nathadvara, no estado vizinho de Rajastan. A adoração que é feita a Sri Nathaji é do mais alto padrão devocional. Uma das característica dessa adoração é que Sri Nathaji é tratado como um menino, e existe sempre uma grande fartura de maha-prasada, principalmente doces. É uma das deidades mais famosas da Índia.
(foto 08) Sri Madhavendra Puri é adorado no Govinda Kunda no local em que meditava. Aqui vemos a asana (assento) de meditação de Sri Madhavendra Puri.
A história, então, se segue. Um dia, a deidade Gopala pediu a Madhavendra Puri que trouxesse madeira de sândalo. O sândalo quando raspado, exala um perfume muito agradável, e quando é misturado com um pouco de água e aplicado no corpo, dá uma sensação muito refrescante. Como o verão estava se aproximando, Sri Gopala queria também aliviar-se do calor. Acontece que não existe sândalo nas imediações de Govardhana. Só existe no outro lado do país. Para satisfazer a deidade, Madhavendra Puri não titubeou e partir para buscar um carregamento de sândalo. Já no caminho de volta, carregando uma pesada carga, ele parou para pernoitar na pequena vila de Remuna, no estado de Orissa, a mais de mil quilômetros de Govardhana. No meio da noite, a deidade Sri Gopinatha do templo local apareceu para o pujari em sonho, e disse: “Eu escondi um copo de maha-prasada atrás de Mim. Ele se destina a um devoto muito especial. Seu nome é Madhavendra Puri. Ele está em algum lugar da vila. Procure-o e dê-lhe esse delicioso leite condensado.” O pujari pulou da cama e foi até o altar para confirmar seu sonho. Dito e feito: havia um copo do delicioso leite condensado escondido atrás das deidades! Saiu, então, pelas ruas gritando: “Tem alguém aí chamado Madhavendra Puri?” Ao ouvir seu nome, Madhavendra Puri se apresentou e recebeu a misericórdia diretamente de Sri Gopinatha. A partir desse dia, essa deidade é conhecida como Sri Kshira-chora Gopinatha, a deidade que roubou o leite condensado. Depois desse incidente extraordinário, Madhavendra Puri preparou-se para continuar sua viagem de volta a Govinda Kunda, carregando sua pesada carga. Aí, então, Sri Nathaji, o Gopala de Govinda Kunda, apareceu em sonho e disse: “Meu querido Madhavendra Puri, estou imensamente satisfeito com seu serviço devocional. Não precisa mais trazer esse sândalo para Mim. Dê-o a Kshira-chora-Gopinatha, pois, afinal de contas, não há diferença entre Ele e Eu. ” Sri Madhavendra Puri terminou seus dias em Remuna, onde está situado seu samadhi-mandir.
(foto 09) As três deidades de Krishna do templo de Remuna. Sri Kshira-chora-Gopinatha é a do meio.
(foto 10) Esse é Sri Gopala, a deidade pratibhu (substituta) de Sri Nathaji, que é adorada atualmente em Govinda Kunda.
(foto 11) Mais uma bela ilustração de Sri Nathaji, no estilo de arte devocional do Rajastan.
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