No fogo brando, o leite vai gradualmente condensando. Não se deve parar de mexer. Ele passa, então, a ter uma consistência cada vez mais pastosa e chega no ponto de “burfi”. Deve-se ter todo o cuidado para não deixar passar do ponto, senão desanda...
Com grata surpresa, pude constatar o grande interesse que o artigo “Manifesto Alternativo” causou entre os devotos. Fiquei sabendo que houve, em diversas cidades, reuniões de devotos para discutir o tema. Recebi muitas mensagens de solidariedade. Vários devotos disseram-me mais ou menos assim: “A maioria do que foi dito são coisas que todo mundo sabe, mas, muitas vezes, essas idéias ficam embaralhadas e não sabemos por onde começar a pensar. Esse artigo define bem as coisas e dá um referencial para o devoto assumir uma postura madura diante da vida.” Recebi, também, várias cartas com algumas dúvidas. Vou aqui comentar somente uma delas e elaborar um pouco mais sobre o tema. Convido a todos para divulgarem esse artigo pelos devotos e pessoas interessadas. é importante também que haja discussões em fórum para ampliarmos nossa conscientização sobre esses assuntos. Seu “feed-back” é importante para “engrossar o leite”.
Precaução por segurança
Acyutananda Prabhu, do Rio de Janeiro, tocou no ponto de que uma das maiores preocupações do jovem de hoje é sua segurança no futuro. Essa incerteza quanto ao futuro seria, então, o fator decisivo para enquadrar-se no sistema. Ele diz que a opção de vida comunitária é, sem dúvida, interessante, mas a vida comunitária é, de certa forma, incerta e insegura. Implica em ficar muito dependente dos outros membros da comunidade. Como poderemos garantir que todos tenham o mesmo entusiasmo e dedicação? Ele diz que a opção pelo sistema seria, na verdade, uma reação à falta de fé no sistema comunitário. Isso, em última análise, justificaria o que todo mundo quer, ou seja, ter menos ansiedade quanto ao futuro. Os pontos apresentados por Acyutananda são dúvidas razoáveis, que qualquer pessoa sensata tem. Certamente, a segurança no futuro é uma precaução normal e natural, e isso deve ser levado em consideração. No entanto, o que pode ocorrer é que tal precaução pela segurança, quando excessiva, pode levar à acomodação. é o que se chama de “imobilismo pela perfeição”, ou seja, só tomarei minha decisão quando estiver cem por cento seguro. O fato é que, na verdade, nunca poderemos ter cem por cento de segurança em nada. Por exemplo, ao trazer uma criança a este mundo ninguém tem nenhuma garantia que ela será boazinha. Ao comprar um apartamento na planta não sabemos se a construtora vai falir ou não. Certa dose de risco está sempre presente em tudo nessa vida. A única coisa absolutamente certa nesse mundo é que vamos morrer. Sem uma dose de coragem e confiança, a pessoa perde o ímpeto para qualquer mudança na vida. Ela cai inevitavelmente numa “vidinha” medíocre. O sistema nos dá uma falsa sensação de segurança e estabilidade. Afinal de contas, o sistema depende da lealdade dos cidadãos, pois é importante que sejamos “fiéis pagadores de impostos”, até o final da vida. Fora uma pequena minoria que consegue fazer um “pé-de-meia” e trata de curtir a vida, a grande maioria são pessoas acomodadas, contentando-se com as migalhas conseguidas da previdência social. Mas, tanto os abastados quanto os remediados são vítimas de uma doença generalizada chamada por alguns psicoterapeutas, de “normose”. São pessoas “normais”. Uma pessoa acometida de “normose” aceita, na maioria das vezes, sem contestar, o status quo imposto pelo sistema. Pode espernear de vez em quando, pode fazer greve de protesto, passeatas, votar em branco, ou tentar burlar o fisco, mas, no final das contas, terá que dançar na música tocada pelo sistema.
Atração Urbana
A vida urbana em cidades grandes oferece muitas facilidades e atrativos. A pessoa acostuma-se àquelas condições e fica completamente apegada. Ela não consegue ver-se em outra situação a não ser aquela. Torna-se então um condicionamento muito forte. Geralmente, o argumento mais forte contra a vida no campo é os mosquitos. Quando se fala em vida no campo, imediatamente ouvimos essa pergunta: “Tem mosquitos lá?” Parece que os pobres dos maruins, borrachudos e pernilongos são o que existe de pior nesse mundo. Qualquer problema e inconveniente urbano, ou mesmo todos os problemas urbanos juntos, são preferíveis a uma picada de mosquito. Poluição, ar irrespirável, perigo constante de assaltos, seqüestros, roubo de carros, engarrafamentos, tempo perdido no trânsito, miséria, pedintes, meninos de rua, impostos e taxas altíssimas de condomínio, falta d’água, racionamentos, cheiro de bife do apartamento do lado, vizinhança baixo nível, narcotráfico, drogas nas escolas, pornografia explícita, degradação moral, luxúria, prostitutas e travestis, prostituição infantil, gerações perdidas, calor, multidões, filas, barulho, ônibus cheio, metrô lotado, rush, blitz, policiais corruptos, balas perdidas, multas de trânsito, seguro do carro, xingamentos, alcoolismo, tabagismo, sujeira, lixo, esgotos abertos, falta de espaço, aluguéis caríssimos, preço absurdo por metro quadrado em zonas chiques, competição selvagem no mercado de trabalho, desemprego, inflação, alto custo de vida, pouco tempo para dedicar-se à família, noites mal dormidas, dependência de psicotrópicos, síndrome de pânico, propagandas enganosas e sensuais, corrupção política, demagogia política, greves, camelôs, enchentes, blackouts, sirenes, programação de TV de baixo nível, vício de vídeo game, super heróis, realidade virtual, brinquedos e distrações infantis baseados em violência, techno music, funk, gangs, educação particular cara, educação pública deficiente, pedofilia, loterias e bingos, consciência corpórea extrema, futilidades, tudo isso e muito mais é encontrado em grande escala no ambiente urbano. Esse é sem sombra de dúvida o pior ambiente para educar as crianças. Crianças nascidas e criadas no ambiente poluído ficarão tão condicionadas a essas condições de vida que não se adaptarão mais em viver em ambientes puros. Podemos observar que uma grande parte da população urbana, muitos devotos incluídos, estão condicionados a essa condição lastimável de vida. Eu já vi pessoas, mesmo jovens, que depois de um dia no campo estavam ansiosos por voltar ao inferno urbano. Não podiam agüentar muito tempo a pureza do ar, o espaço, a calma e a natureza como ela é. O silêncio, então, é um dos maiores suplícios. Para eles, vida tem que ser artificial. Tudo tem que ser de plástico, informatizado, congelado e ter algum zumbido. O pior de tudo é que os pobres dos mosquitos são os que levam a culpa por terem que viver nesse caos urbano.
Um Modelo Não Sustentável
Outro fato que os devotos devem entender com visão filosófica e profundidade é que esse modelo sócio-político-econômico oficial vigente não merece ser apoiado e seguido pois não é absolutamente sustentável. Sustentabilidade significa a capacidade que uma coisa tem de se renovar pelo seus próprios recursos. Isso significa que, as coisas estão gradual e irremediavelmente piorando e dirigindo-se ao ponto de colapso. Existem dois paradigmas para se lidar com esse mundo: a mentalidade materialista de exploração e consciência espiritual, em que se considera que tudo é energia de Deus e, dessa forma, deve ser respeitada e bem usada. A mentalidade prevalecente é de exploração. é um estado de irresponsabilidade absurda para com a própria pessoa, com o planeta e com as gerações futuras. O que a natureza gastou milhões de anos para se formar é muitas vezes destruído em questão de minutos. A idéia central de nosso Manifesto Alternativo é de que os devotos devem fazer todos os arranjos e moldarem suas vidas de tal maneira que fiquem, o mais possível, à parte dessa mentalidade perversa. Ao mesmo tempo, devem tratar de desenvolver, de forma madura, a genuína mentalidade consciente de Krishna. De um modo geral, as pessoas, movidas pela ganância e pelos apetites, querem vantagens e desfrutes imediatos, sem se importar com as conseqüências. Essa mentalidade é encontrada nos altos escalões do governo, nos ricos e também no povão. Os inúmeros problemas que afligem a sociedade contemporânea são conseqüências diretas dessa mentalidade centrada na exploração, no consumismo, no oportunismo e na busca irrestrita de prazer sensual. Um dos mais graves problemas no planeta são os problemas ambientais (poluição atmosférica, contaminação do solo e da água, diminuição da água potável, mudanças de clima, desmatamentos, desertificação, radiações nocivas, extinção de espécies, reações a alterações genéticas provocadas, e por aí vai). A maioria desses problemas já se tornaram irreversíveis. Na lista de problemas crônicos encontramos também: distribuição injusta de renda e propriedade, exploração econômica dos poderosos, trabalho escravo, miséria, superpopulação, racismo, fanatismo religioso, degradação moral, violência urbana, terrorismo, drogas, aborto, novas doenças, desagregação da instituição familiar, relativismo dos valores éticos e espirituais, etc. etc. Que devoto, em sã consciência, quer persistir mantendo-se conivente com esse karma coletivo tão degradante e auto-destrutivo? Temos que adotar um outro paradigma de vida, que seja em sintonia com os valores espirituais eternos. Em minha opinião, um devoto, sabedor dessas coisas, deve tomar uma atitude bem radical em sua vida. Deve fazer isso de forma consciente, sem tratar de peitar o sistema ou virar uma pessoa revoltada e ranzinza. Temos que abrir nossos olhos e não se deixar atrair pelo engodo do sistema, que está sempre propalando que “as coisas vão melhorar”. Não vão melhorar não, vão piorar mais e mais. De fato, estão piorando gradualmente. Só que as coisas acontecem bem devagarzinho e, normalmente, não nos damos conta. Dessa forma, as pessoas vão, sucessivamente, acostumando-se com cada fase da degradação, e sem se dar conta da gravidade da situação. Ainda por cima, sempre vai existir um monte de distrações e entretenimentos para desviar nossa atenção dos problemas reais. Sempre vai aparecer um novo shopping elegante, muito atrativo, para alimentar a ilusão de que a vida nas cidades grandes é a ideal. A pessoa fica assim presa a este engodo sem fim. (Srila Prabhupada disse que a única vantagem que as cidades grandes têm é o campo de pregação. Lá estão concentradas as pessoas que mais precisam ouvir sobre a consciência de Krishna). Temos, portanto, que mudar o paradigma de nossas vidas. Estamos firmemente convencidos de que vale a pena arriscar adotar um outro modelo de vida mais natural, saudável e que valorize realmente a condição humana. Isso é o melhor que podemos oferecer para nós e para nossos filhos.
Arriscando com Confiança
Um devoto deve ter uma alta dose de confiança pessoal e até ousadia. Como diz o ditado: “Quem não arrisca, não petisca”. Em tudo que façamos, sempre teremos algum risco. Isso é inevitável. Um devoto não deve ser uma pessoa acomodada; não deve parar no tempo e perder o pique. Não deve aceitar passivamente esse estado de coisas. Não deve ficar conivente com esse sistema materialista. Deve desconfiar de suas ofertas. Deve usar somente as coisas básicas do sistema, pois é um fato de que não podemos ficar totalmente alheio a ele. Um verdadeiro devoto deve estar sempre disposto a assumir algum risco por Krishna e, de certa forma, renunciar, integralmente ou em parte, a segurança e conforto de seu mundinho pessoal. Excesso de cautela pode virar uma mera desculpa para o comodismo. Não podemos perder o entusiasmo, pois uma vez perdido, dificilmente conseguiremos restabelecê-lo na consciência. Esse entusiasmo é o que podemos chamar, propriamente, de vida. Vida é aquilo que está sempre se renovando. Para estabelecermos sólida e definitivamente a missão de Srila Prabhupada em nosso país, precisaremos ter espírito revolucionário. Obviamente essa não é uma revolução movida pelo ódio e poder, mas pela boa vontade e compaixão. Uma revolução no modo da bondade. Aqueles que nutrem o desejo de contribuir para que a missão de Srila Prabhupada estabeleça-se de forma digna e consistente no seio de nossa sociedade, devem interiorizar a fé nas palavras do Senhor Krishna, no Bhagavad-gita: “Eu garanto, meu devoto nunca perece”, “Eu provejo o que lhes falta...”, “...por minha graça, todos os obstáculos da vida são superados”, etc. é preciso, sem dúvida, ter uma certa dose de coragem e auto-confiança. Temos, contudo, que procurar agir com inteligência. Mero entusiasmo sem preparo e visão clara das coisas não dá bons resultados e termina, na maioria das vezes, em derrota e lamentações.
Vida Comunitária: Possível ou Impossível?
Convívio em harmonia é algo raro nesse mundo, mesmo dentro da célula mater da sociedade, a família, que, teoricamente, deveria ser um refúgio de paz e segurança. Nos relacionamentos quase sempre ocorre algum tipo de choque de egos. às vezes, coisas insignificantes redundam em desavenças irreversíveis. Assim sendo, vida comunitária é, realmente, um grande desafio para nós. Aqui no Brasil, ainda temos um outro fator que é difícil de ser dominado: a questão econômica. Essa questão é muito complicada. Um chefe de família deve estar, teoricamente, capacitado para sustentar sua família, sem causar ansiedades e insegurança aos seus dependentes. Regras básicas de administração doméstica e profissional devem ser aprendidas, pois até mesmo o trabalho individual deve ser bem administrado para ser produtivo e eficaz. Em minhas andanças pelo Brasil, volta e meia encontro com devotos que lembram um artigo que escrevi, alguns anos atrás: “A cruzada contra penúria”. Nesse artigo, dizia que as comunidades devem dar uma atenção especial para sua base econômica. Isso deve ser uma preocupação preliminar. Primeiro deve-se estabelecer as atividades produtivas e comerciais que vão manter o projeto. Se ao invés de organizarmos um mecanismo econômico, concentramos em atividades que não têm um resultado financeiro, somente despesas, o projeto vai sucumbir. Foi o que aconteceu em alguns de nossos projetos. Na índia ou em paises onde existe um grande número de indianos, o primeiro passo para se estabelecer uma comunidade rural é construir o templo e instalar as deidades. Quando isso está assim estabelecido, o lakshmi, em forma de doações, não vai faltar. Doação às deidades faz parte da cultura indiana. Ninguém visita um templo sem dar sua doação. Isso é parte da vida religiosa de um grhastha. Aqui no Brasil, todo mundo sabe, é bem diferente. (Sem cofrinhos e cotas mensais de responsabilidade nenhum projeto urbano sobrevive). No caso das comunidades rurais, não podemos nos dar ao luxo de começar a construir o projeto pela parte brahminica, a saber, templos, instalação de deidades, gurukula, institutos, etc. Temos que pensar primeiro na parte vaishya, na base econômica. Infelizmente essa é nossa realidade, e temos que nos conformar com isso. Todas as tentativas feitas para copiar os modelos indiano, europeu e estadosunidense redundaram em fracassos, vide Nova Gokula e Nova Vrajadhama. Bem, pelo menos já tivemos essas experiências, e esperamos que não vamos repetir os mesmos erros daqui para frente... Estabelecer comunidades rurais é indubitavelmente uma tarefa de grandes desafios. Temos experiência de que não basta reunir devotos que têm Krishna como o centro da vida e grande amor por Srila Prabhupada. Definitivamente, essas duas coisas são condições sine qua non para participação na comunidade. Mas, à parte a isso, todos os requisitos necessários para uma boa convivência e relacionamentos são essenciais. Os componente de uma comunidade devem ser pessoas bem educadas e de bom caráter. “Maçãs podres” não devem ser permitidas se infiltrarem no grupo. Os membros da comunidade devem ter bastante afinidade entre si. Deve ser como uma grande família unida. Se existirem grupinhos e partidos, críticas e políticas, tudo será arruinado. A responsabilidade de definir os critérios para residir numa comunidade deve ser de um conselho de moradores. O candidato deve provar que possui os requisitos e sua aprovação ou não é dada pelo conselho dos membros.
Renovação
A missão de Srila Prabhupada aqui no Brasil está seguramente numa fase bem favorável para um crescimento saudável. Por todo lado vemos sinais de que as coisas estão se encaixando e os resultados estão aparecendo. Nada muito espetacular como há duas ou três décadas quando houve um verdadeiro “boom”. Por outro lado, hoje em dia o movimento está mais maduro e preocupa-se mais com a estruturação do que uma expansão descontrolada. Nos dias de hoje, não temos a quantidade de voluntários em tempo integral que tínhamos antes. Os jovens estão mais arredios que antes à disciplina monástica. Mesmo assim, sempre aparece uma alma rara que toma refugio integral em Krishna. Srila Prabhupada sempre dizia que quem se rende a Krishna deve ser bem protegido para não se frustrar, pois isso é muito raro no mundo de hoje. Temos que organizar muito bem nossas comunidades, tanto urbanas quanto rurais. Todos os devotos, com dedicação integral ou parcial ao movimento, estão convocados para esse esforço de renovação. Srila Prabhupada ao partir desse mundo enfatizou: “Pelo menos mantenham o que já temos.” Isso deve ser uma questão de honra. Não devemos permitir que as coisas regridam. O crescimento deve ser orgânico, passo a passo. Não devemos nunca assumir compromissos que não poderemos cumprir. Cada nova conquista deve ser cuidadosamente conservada. Hoje em dia, mais do que em tempos passados, a participação na condução do movimento é muito mais ampla. Antes tudo ficava sob o controle de uns poucos abnegados e sobrecarregados de responsabilidades. Hoje existe muito mais abertura.
Confiança
Vou aqui dar alguns exemplos do que vem acontecendo em nosso yatra brasileiro. Em Nova Gokula, um grupo de devotos tomaram as rédeas do projeto. Eles estão muito desejosos de fazer Nova Gokula um projeto exemplar e estão investindo seus próprios recursos financeiros dentro do movimento. Isso é um sintoma de confiança. O projeto inclui uma clínica ayurvedica, pousadas e restaurante. Isso dará a Nova Gokula uma base econômica sólida. Outro exemplo digno de louvor acontece em Nova Vrajadhama, em Caruaru. Por falta de estrutura econômica, o projeto ficou quase que praticamente desativado. Aproveitando-se disso, um vizinho que explora a água mineral em suas terras, entrou com um pedido no ministério de Minas e Energia para explorar a água mineral na terra da comunidade. Por lei isso é possível pois o sub-solo pertence ao governo e este pode autorizar a exploração, mesmo em terras alheias. Quando Jagad-vicitra Prabhu, o pioneiro da pregação no Nordeste e administrador da fazenda, soube, tratou imediatamente de agir, devido à gravidade e urgência da situação. Aí então ele, por sua vez, tratou de fazer a solicitação da licença de exploração da mina de água dentro da fazenda e assim conseguiu impedir a pretensão do vizinho esperto. Talvez a maioria não possa imaginar o que isso realmente representa. Os estudos e pesquisas para a autorização junto ao governo são complicadíssimos. Requer o trabalho de engenheiros e técnicos especializados. Muito lakshmi é preciso só para as pesquisas de campo e cálculos. Bem, finalmente a autorização foi conseguida. A partir daí, começaram a fase das obras. Para financiar esse projeto, juntou-se a Jagad-vicitra, seu irmão Dhanvantari Maharaj e mais uma irmã dos dois. Usaram todo o lakshmi de suas partes de herança. A primeira fase, o poço de extração, já foi concluída. A segunda, que inclui a extração (bomba e encanamentos caríssimos), armazenamento, envasamento e distribuição, e que será preciso algumas centenas de milhares de reais, terá início na seqüência e será financiada por um banco de investimentos. Assim que for tudo instalado e estiver funcionando, será um negócio garantido para o resto da vida. A comunidade, então, vai soerguer-se a partir daí. Os devotos residentes terão oportunidades de trabalho dentro da comunidade. Esse é outro exemplo de confiança na missão de Srila Prabhupada, no modelo alternativo e na vida comunitária. Em Vrajabhumi, em Teresópolis, Candra Mukha Maharaj , junto com Lilaraja Prabhu, assumiram as rédeas do projeto e estão desenvolvendo um projeto profissional de hotelaria, aproveitando muito bem as características ambientais e turísticas do local. Também está em andamento um curso de formação de professores de yoga, em parceria com a academia Ananda Candra, de Mandakini Mataji, de Juiz de Fora. Desejamos sucesso nesses empreendimentos. Em 1985, dois irmãos engenheiros, Arcana-marga e Setukara Prabhus, compraram umas terras nas montanhas de Paraty. No princípio, não havia nem estrada de acesso. Só uma picada. Pouco depois resolveram fazer dessa terra um projeto de comunidade rural da ISKCON. Os dois irmãos são devotos do movimento em tempo integral. (Arcana-marga mora atualmente em Nova Gokula e é um dos sete membros do comitê executivo da comunidade). Setukara Prabhu, atual presidente da comunidade, era engenheiro com especialidade de energia nuclear. Ele desligou-se voluntariamente de uma carreira estável na Nuclebrás para optar pelo estilo de vida alternativa e tocar um projeto da missão de Srila Prabhupada. Depois de anos de trabalho intenso, o projeto está chegando ao ponto de estabilidade econômica, baseado em atividades agro-industriais (fabricação de banana passa e melado). Existe, também, oportunidades muito favoráveis para hotelaria e turismo ecológico no projeto. Já existe um devoto interessado em investir nessa área, Giriraja Prabhu, de Campos (RJ). Outras parcerias irão reforçar o projeto e são bem vindas. Esse é um rápido retrospecto da situação de alguns projetos rurais no Brasil. Queremos aqui manifestar nosso apreço a todos os devotos que estão firmes em sua confiança na missão de Srila Prabhupada. O que esses devotos estão fazendo são exemplos dignos de serem seguidos. Queremos que mais e mais devotos entrem nessa sintonia. Srila Prabhupada certamente está radiante e todos serão abençoados. O que é preciso agora é uma nova onda de confiança entre os devotos para que todos esses, e mais outros tantos projetos se desenvolvam. Esse desenvolvimento tem que ser com o “pé no chão”. Devemos fazer tudo de acordo com as normas, a saber: estatutos e regulamentos internos, apoio legal, contratos, relatórios financeiros, assembléia de membros, diretoria atuante, prestações de contas, etc. Alguém pode argumentar: Quer dizer que tudo tem que ser igualzinho ao padrão do sistema? Sim, mas com a diferença fundamental de que tudo isso é para construirmos uma condição ideal para qualquer pessoa tornar-se um devoto puro de Krishna e desapegar-se do mundo.
Hare Krishna!
Purushatraya Swami
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