Dando um novo sentido à vida

Entrevista com Gustavo, ex-tenente do exército que tornou-se Gurusevananda, monge Hare Krishna, viajou pela índia e agora é um integrante do projeto de Goura-Vrindávana.

Amor e Confiança: Gostaríamos de saber os motivos que levaram-no a trocar a estável carreira militar pela vida monástica, cheia de incertezas e dificuldades?

GSA: Acredito que cada pessoa neste mundo tem um determinado papel a cumprir (dharma), que lhe é dado por Deus de acordo com sua própria natureza. A satisfação pessoal vem à medida em que conciliamos nossa vida com o plano divino, de modo que nossas atividades satisfaçam, em última análise, a Vontade Suprema. Todas essas mudanças que ocorreram comigo nesses últimos quatro anos são resultados de minha busca espiritual de tentar compreender minha missão nesta vida.

AeC: Que missão é essa e o que te dá tanta certeza de que ela é a vontade de Deus para a tua vida?

GSA: Em seu livro “Terra dos Homens”, Saint-Exupčry diz que somente aqueles que entendem seu papel podem viver felizes e mesmo morrer felizes, pois o que dá sentido à vida dá também sentido ao sacrifício da própria vida. Pois bem, outro fruto de minha busca espiritual foi a decisão de fazer de minha vida uma oferenda para a satisfação de Deus, Krishna. Essa determinação foi despertada em mim pela leitura dos livros de Srila Prabhupada e pela associação que tive com devotos e monges. Aí, então, tive forte impressão de que cada passo era guiado por Krishna. Não é que Ele tenha aparecido milagrosamente diante de mim, mas tudo se passava dentro do coração, na medida em que Ele dava-me discernimento para fazer as escolhas corretas. Tais experiências internas são um tanto difícil de serem descritas. O fato é que tudo depende da qualidade da comunicação que estabelecemos com Ele. De nossa parte é necessário que estejamos com a consciência bem desperta e absortos em oração e contemplação. Da parte dEle há maravilhosos arranjos feitos através de incríveis coincidências e intuições.

AeC: Diga-nos como foi a reação das pessoas de sua relação ao manifestar sua decisão de tornar-se um monge?

GSA: Num primeiro momento, tanto meu pai, tios e avô (todos militares) assim como meus superiores hierárquicos no quartel acusavam-me de estar fugindo da responsabilidade que eu tinha em relação ao serviço da pátria. Quanto a isso, fiz vê-los que não era incapacidade para assumir tal compromisso, visto que minha carreira desenrolava-se de forma bem sucedida. Na verdade, estava assumindo um compromisso muito maior pois, uma vez que Deus é a fonte de tudo, o serviço a Ele é muito mais abrangente e automaticamente beneficia não somente a pátria mas a todos. à medida em que minha vocação religiosa despertava, a execução daquele papel militar já não me preenchia completamente. Minha consciência expandia-se para o plano transcendental e aspirava ao serviço amoroso a Deus. No final, recebi apoio de meus ex-companheiros de quartel e, em especial, de meu pai.

AeC: Fale-nos um pouco sobre a tua experiência na índia.

GSA: Assim como uma plantinha para se desenvolver precisa de luz, água e um solo fértil, senti que no início de minha senda espiritual também precisaria de adquirir bastante conhecimento (luz) e dedicação às atividades devocionais (água). A índia foi o lugar ideal para isso. Lá pude realizar bons estudos sobre a filosofia e tive oportunidade, também, de viajar por quase todo o país, conhecendo interessantíssimos aspectos culturais e visitando locais sagrados de peregrinação. Quanto ao terceiro item, eu o associo á minha vinda para Goura-Vrindávana, o “solo fértil” onde poderei me fixar e desenvolver.

AeC: Dê tua apreciação sobre o projeto de Goura-Vrindávana.

GSA: Goura-Vrindávana tem certas características que fazem deste projeto algo único. A meu ver, um dos principais fatores para o bom andamento do projeto é a preocupação dos líderes em ajustar tudo em harmonia com o tempo, lugar e circunstâncias. O projeto não se restringe apenas aos aspectos espirituais mas preocupa-se em criar uma sólida base material para que o aperfeiçoamento espiritual de seus integrantes possa ocorrer de forma estável. A vida é simples mas a qualidade de vida é superior a começar pela alimentação saudável com produtos orgânicos e culminando na associação com pessoas que cultivam elevados ideais espirituais. Goura-Vrindávana torna-se, gradualmente, uma referência para um modelo de desenvolvimento auto-sustentável (capaz de gerar auto-suficiência alimentar e energética) assim como a melhor atmosfera para vida espiritual sadia. Por tudo isso, vejo uma perspectiva futura brilhante para este projeto e oro a Krishna para que Ele me permita humildemente dar minha contribuição neste belo serviço à missão de Srila Prabhupada. Hare Krishna.


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