Jaipur(II)
Pelo que eu me lembre, não conheço nenhuma cidade, tanto na Índia quanto fora, que seja mais favorável à consciência de Krishna que Jaipur. Ao andar pelas ruas da cidade somos, a todo instante, saudados: “Hare Krishna”, “Jaya Radhe”, “Haribol”, etc. Temos que nos aperfeiçoar cada vez mais para que isso ocorra em todas as cidades do mundo.
Como já foi mencionado, várias deidades importantes foram transferidas para o estado de Rajasthan, para se salvarem do ímpeto sectário e fanático de certos governantes muçulmanos, notadamente o imperador Aurangzeb, que queria, a todo o custo, acabar com a milenar cultura védica da Índia. Devido à concepção totalmente impersonalista de Deus, eles descarregaram sua ira nos devotos que adoram a Krishna em Sua transcendental forma de archa-vigraha, a manifestação no mundo da matéria da forma transcendental eterna de Deus. A adoração das deidades é um importantíssimo aspecto da prática da bhakti-yoga ou consciência de Krishna. Felizmente, apesar de terem feito alguns estragos irreversíveis, não lograram o êxito que desejavam. E assim, nós, hoje em dia, podemos ter acesso a muitas fontes primária dessa milenar cultura, que representa o nível máximo de civilização humana. A cultura védica é um preciosíssimo patrimônio da humanidade, principalmente por seu conteúdo espiritual, baseado exclusivamente no princípio de que tudo está relacionado com Deus (ishavasyam idam sarvam: “Tudo que existe pertence e é controlado pelo Senhor Supremo” - Sri Ishopanishad 1).
Perto dos templos importantes, existe sempre um mercado de guirlandas de flores, para serem oferecidas às deidades.
Interior do templo de Sri Sri Radha-Damodara. Sri Damodara é a deidade adorável de Srila Jiva Gosvami, o filósofo por excelência da linha do Senhor Caitanya. Essa pequena deidade, de mais ou menos um palmo e meio de altura, foi pessoalmente esculpida por Srila Rupa Gosvami, que é o devoto-líder do movimento do Senhor Caitanya. Jiva Gosvami é sobrinho de Rupa Gosvami. No mesmo templo, encontra-se também outro par de deidades, Sri Sri Radha-Vrindavanachandra, que são tidas como pertencentes a Srila Krishna Das Kaviraj Gosvami, o venerável autor do Sri Caitanya-caritamrta.
Aqui vemos Sri Sri Radha-Vinoda, deidades de Srila Lokanatha Gosvami. É dito que essa deidade chegou às suas mãos por arranjo direto do Senhor Krishna. Lokanatha Gosvami foi o primeiro devoto enviado por Sri Caitanya Mahaprabhu para estabelecer-se permanentemente em Vrindavana. Naquela época, Vrindavana Dhama estava perdida no meio da floresta e área rural. Lokanatha Gosvami era extremamente humilde e absorto na consciência de Krishna. Seu único discípulo tornou-se uma acharya exponencial do Gaudiya-Vaishnavismo (a linha de Caitanya Mahaprabhu): Srila Narottama Das Thakur, que compôs poesias e canções do mais elevado nível de devoção pura.
Aqui estamos num belo local nos arredores de Jaipur, chamado Galta. A importância de Galta para os Gaudiya-Vaishnavas é que foi nesse local que, duzentos anos após a partida de Sri Caitanya desse mundo, o erudito devoto Srila Baladeva Vidyabhushana compôs o comentário do Vedanta-sutra, chamado Govinda-bhashya. Até então o movimento do Senhor Caitanya não possuía um comentário do Vedanta-sutra, como tradicionalmente outras linhas filosóficas faziam a questão de ter. Por causa disso, o movimento de Sri Caitanya estava sendo criticado por outras linhas ortodoxas. Nessa altura, Sri Sri Radha-Govinda estavam instalados num magnífico templo nos jardins do palácio real. Certos Vaishnavas de outras linhas queriam que a deidade predominante fosse Sri Sri Lakshmi-Narayana. De tanto se queixarem ao rei, o sábio rei decidiu convocar os Vaishnavas de diversas linhas para discutir filosoficamente a questão. O jovem renunciante Baladeva veio representar os Gaudiya-Vaishnavas. Ele era muito humilde, mas era sobretudo muito erudito. Com argumentos filosóficos irrefutáveis, ele derrotou seus oponentes em debates públicos, e assim, a consciência de Krishna foi definitivamente estabelecida no cenário Vaishnava. O rei ficou convencido de que a adoração de Radha e Krishna é o referencial máximo de devoção.
Embora filosoficamente derrotados, seus oponentes deram um último argumento: “A doutrina de Caitanya Mahaprabhu não pode ser considerada uma filosofia e religião genuína porque não possui um comentário do Vedanta-sutra”. O fato é que a opinião de Sri Caitanya era que tal comentário era completamente dispensável, visto que o próprio autor do Vedanta-sutra, Srila Vyasadeva, havia composto um livro muito mais claro e accessível, o Srimad-Bhagavatam, que estabelece o siddhanta (conclusão final) da consciência de Krishna. Para acabar com essa polêmica e estabelecer definitivamente a doutrina de Caitanya Mahaprabhu no cenário Vaishnava, Baladeva Vidyabhushana, compôs em apenas sete dias, escrevendo dia e noite, um magnífico e irrefutável bhashya (comentário). É dito que ele teve direta inspiração de Govindaji. Govindaji ditava e ele escrevia. Daí o nome: Govinda-bhashya.
Requintada arquitetura em Galta.
Belíssima deidade de Sri Caitanya Mahaprabhu de um templo da linha de Srila Gopala Bhatta Gosvami, próximo ao Govindaji Mandir.
Sri Sri Krishna-Balarama do templo da ISKCON-Jaipur. Liderados por um devoto australiano, um grupo de vinte devotos da missão de Srila Prabhupada estão desenvolvendo o projeto local. Adquiriram uma propriedade de quatro hectares na zona rural, a quinze quilômetros do centro. Por enquanto, fizeram algumas construções provisórias para estabelecerem-se na terra. A idéia é construir um belíssimo templo no mais autentico estilo da arquitetura do Rajasthan. No templo provisório, foram instaladas as deidades principais do futuro templo: esses belíssimos Krishna e Balarama.
Em Jaipur, encontrei um velho amigo, Madhava Maharaj, e participamos juntos de um programa de nama-hatta (pregação pública).
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